sábado, 5 de dezembro de 2009

O Sagrado


Deus é santo. A criação inteira é obra de Deus; portanto, a criação inteira é santa porque reflete em si a santidade de seu Criador.

O ser humano, em seu relacionamento com o divino, isto é, com Deus seu criador, precisa de sinais visíveis para ver manifestado este relacionamento. Ora, para tanto, o ser humano crê racionalmente que determinados objetos signifiquem algo concreto em seu relacionamento com Deus. A esses objetos o conhecimento humano deu o nome de sagrado. Sendo sagrado, o objeto é retirado do uso comum e a ele é atribuído um uso especial, em ocasiões especiais ou durante o tempo todo. Assim, há um respeito não ao objeto em si, mas àquilo que ele significa. O objeto em si continua sendo fisicamente idêntico a tantos outros; entretanto, pelo que significa, torna-se diferente de qualquer outro similar e passa a merecer o respeito daqueles que porventura o toquem ou vejam. Neste sentido, vale ressaltar que o respeito deve ser tanto daqueles que determinaram o caráter sagrado do objeto quanto – e tanto mais! – daqueles que sabendo ser sagrado o objeto porventura venham a ter contato com o mesmo.

Por isso, tem caráter sagrado toda e qualquer bíblia, seja ela editada por católicos, protestantes ou judeus. Trata-se de livro contendo a Palavra de Deus e, portanto, é sagrado.

Tem também caráter sagrado o livro com as palavras de Maomé bem como os livros com as palavras antigas dos povos do oriente. Aqui se entenda por povos do oriente os povos da Índia, da China, do Japão e de tantas outras terras distantes.

Tem caráter sagrado as imagens, sejam elas pinturas ou esculturas, as quais tantos povos veneram mundo afora. São imagens veneradas por povos ocidentais e orientais, das mais diversas culturas e religiões. São a expressão viva das crenças de cada povo e, ainda, simbolizam para todos os membros de sua sociedade a fé que professam. Portanto, todo e qualquer objeto sagrado merece ser respeitado. Respeitado por todos. Respeitado por aqueles que o consideram sagrado e por aqueles que sabem que o mesmo é considerado sagrado.

Os templos são sagrados e tudo o que neles está também é sagrado. Então, sabemos que as igrejas – todas as igrejas cristãs – são sagradas, sabemos que todos os templos judaicos são sagrados, sabemos que todas as mesquitas são sagradas. Enfim, todos os templos onde o povo se reúne para orar ao seu Criador, em todos e nos mais diversos pontos do mundo, são sagrados e devem ser respeitados. É dever de todos e de cada um respeitar a dignidade de um local sagrado dedicado à oração.

Todo fiel, ao ver o que considera sagrado ser desrespeitado, sente-se também desrespeitado, pois a dignidade de sua fé foi agredida. O desrespeito dado ao templo ou ao objeto sagrado, para o coração do fiel, é a mesma coisa que ser dado a ele mesmo.

Ora, e por quê argumentar tanto a respeito do sagrado? Por um motivo simples! Nos últimos meses, nesta paróquia de Santo Antônio do Monte, quanto desrespeito com o que é sagrado para o povo desta terra foi visto! A imagem de Nossa Senhora das Dores, que fica exposta há várias décadas na igreja matriz, sofreu duas agressões e, o mais grave, houve o roubo de um sacrário e a profanação de hóstias consagradas. Conforme divulgado pelos padres da paróquia durante as missas, várias hóstias foram encontradas espalhadas na rua. É um fato tão grave que fere o coração de cada católico desta cidade e, por extensão, o coração de cada católico do mundo. Mais ainda, fere o coração de Jesus, já tão maltratado pelos pecados dos filhos de Adão e das filhas de Eva.

As imagens católicas, em estampas e esculturas, presentes nas igrejas, nas casas e tantos outros locais públicos, são símbolos sagrados para nós católicos. Queremos que elas sejam tratadas com respeito e dignidade, pois são a expressão da fé que professamos. Portanto, o desrespeito dirigido a elas é também dirigido a nós que a elas damos o valor e o significado de objetos sagrados.

A hóstia consagrada, para nós, é o próprio corpo e sangue de Cristo, presente no trigo e no vinho. É o próprio Jesus vivo e presente. Deve ser respeitado. Precisa ser respeitado. É o próprio Jesus Cristo presente em carne e sangue!

Nilson Antônio da Silva

Um comentário:

A partir de uma palavra disse...

Nilson, vc se superou neste texto, na minha opnião, foi o melhor que já li de sua autoria. De fato, o real significado dos símbolos cristãos não está nos significantes, mas sim, na nossa tradição milenar. Quanto a profanação ocorrida em sua cidade, só nos resta imitar a Cristo e pedir perdão por aqueles que não sabem o que fazem.